
Contudo, dos 19 mil habitantes, 2,9 mil famílias ainda dependem do Bolsa Família, e mais de 2 mil pessoas vivem uma situação de grande insegurança hídrica, sina de um Nordeste que teima em existir.
No Caldeirão, zona rural, há muito o banho é de balde, não há trabalho para os homens que plantavam milho e arroz porque os pés secaram todos, a pouca água que aparece é transportada em latas e as mulheres percorrem quilômetros com as roupas da família em mãos para lavá-las em outras comunidades porque a água é escassa.
Os dois cacimbões, poços construídos pela comunidade para o armazenamento da água - um com dez metros de profundidade, e outro com sete - secaram por completo. As casas que têm cisternas - muitas não tem -, as veem quase vazias.
"Só por dedo de Deus, moço. Água aqui não existe". Custou seis dias desde que dona Geralda de Araújo começou a ligar para a cidade para que finalmente enviassem para a comunidade no domingo, dois dias antes da visita da reportagem, um caminhão-pipa, única forma de acesso a água desde que há mais de ano secou o açude que abastecia as cerca de 600 pessoas que moram ali.
Uma vez por semana, dona Fátima Corné faz uma trouxa com a roupa das 12 pessoas que moram em sua casa no Caldeirão e vence, à pé, alguns quilômetros até chegar a uma propriedade privada na qual o dono permite, por R$ 20 mensais, que lave as vestes da família.
A comunidade se ressente por dona Francisca Pereira, de 90 anos, que também sofre com a penúria. Quando a reportagem deixava a comunidade, a senhora pediu para falar. "Tudo bem, dona Francisca?". "Não está nada bem, meu filho. Nós precisamos de água", disse ela, com os olhos marejados.
Por longe do local onde ficará o reservatório de Piranhas que receberá a água da transposição, o prefeito e a comunidade de Caldeirão dão como certo que a água do São Francisco não chegará às torneiras de Piranhas, como se a distância tornasse uma segunda transposição intransponível. Os problemas da estiagem se repetem em outras comunidades: Carrapateiras, Bom Jesus, Mangação...
Domingos Neto, o prefeito, afirma que em Caldeirão o problema é sazonal, por conta da falta de chuvas no último ano. Ele afirma que têm perfurado poços artesianos em comunidades como forma de contornar o problema. Caldeirão ainda não foi contemplada. Seu Francisco Pereira, que mora ali desde a década de 1940, porém, diz que a seca vem piorando a cada ano.
"Precisam ter pena de gente tão pobre", diz Geralda. A comunidade apela pela perfuração de um poço, e pela criação de um novo açude, em uma área melhor. "Querendo, os governantes resolvem", afirma Fátima.
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