
Juana Elbein dos Santos escreveu que “devido a vários factores, a cultura Nagô – classificada como Yorubá pela etnologia moderna, proveniente do Oeste da Nigéria, centro e sul do Daomé, composta por grupos Òyó, Egbá, Egbado, Ijexá, Sabé e Ketu – influenciou todas as outras, quer seja a Gegê, proveniente de Daomé e cujos traços culturais são semelhantes aos dos Adjá, Fon, Ghuedá e Jegun, quer seja de origem Bantu”.
Foi, sobretudo nos terreiros que se mantiveram vivos os sistemas culturais herdados.
Os Terreiros
Todos os membros se encontram unidos na mesma fé, protegidos pelos Orixás, submissos a uma autoridade religiosa e espiritual, na qual uma solidariedade económico-religiosa fundamenta a co-responsabilidade do trabalho.
Os membros estão unidos como uma parte num todo, por laços consanguíneos de iniciação e por referências a um mundo acompanhado pelos ancestrais.
A autoridade espiritual e moral é concentrada nas mãos dos “pais” ou “mães de santo”, chamados também de “Babalorixás”ou “Yalorixás”. O nome “mãe” e “pai” significa aqui que os adeptos aceitam uma segunda educação pelas mãos de pessoas significativas nas suas vidas. A educação numa nova vida, após serem iniciados no Candomblé.
Cabe aos chefes do terreiro presidir às cerimónias religiosas, receber os convidados, raspar a cabeça dos iniciados, supervisionar os rituais e apontar os novos iniciados.
A estrutura do Candomblé inclui duas categorias de pessoas: os iniciados propriamente ditos e os titulares, pessoas executivas e honoríficas. Os primeiros percorrem todo o processo formal de iniciação, do aspirante ao supervisor religioso do terreiro.
Há também um grupo ligado à hierarquia do terreiro, mas que não recebe (incorpora) as divindades. São as Equedes, consagradas ao serviço dos santos e atentas às filhas de santo quando estão incorporadas.
O segundo grupo, propriamente dito, é representado pelos “Ogãs”, pessoas que exercem um cargo executivo e honorário no Candomblé. Contribuem para solucionar problemas jurídicos e formam um corpo selecto de prestígio.
Os terreiros gozam de uma certa autonomia, mesmo que haja um relacionamento entre si. A autonomia é fonte de prestígio.
A adesão ao candomblé é um processo complexo, paulatino e que envolve um aprendizado minucioso de códigos religiosos que, é possível dizer, começa na iniciação. Tal aprendizado dá-se no âmbito das relações do grupo do terreiro ou da comunidade do “povo-de-santo”.
É também regulado pelo tempo de iniciação que, situando o iniciado dentro de uma estrutura hierárquica precisa, delimita posições e papéis. Assim, a inserção do indivíduo na comunidade vai sendo feita através da acumulação dos fundamentos religiosos que estabelecem o tipo de relação do indivíduo com seu Orixá e com os demais membros do culto. De uma forma simples, no Post anterior apresentei as principais posições e funções hierárquicas dentro do Terreiro ou Ilê, e abaixo recordo então, em ordem decrescente essa mesma hierarquia.
- Yalorixá ou Babalorixá: A palavra Iyà do Yorubá significa mãe, Bàbá significa pai.
- Iyaquequerê: Mãe pequena, a segunda sacerdotisa.
- Babaquequerê: Pai pequeno, o segundo sacerdote.
- Iyalaxé (mulher): Cuida dos objectos do ritual.
- Agibonã: A Mãe criadeira, supervisiona e ajuda na iniciação.
- Ebômi: Ou Egbomi, são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (o nome significa: meu irmão mais velho).
- Iyabassê: (mulher): Responsável pela preparação das comidas-de-santo
- Iaô: Filho-de-santo, iniciado, mas não tem um cargo atribuído, participa nos rituais (já incorpora Orixás).
- Abiã ou Abian: Novato. É considerado Abiã aquele que entra para a religião após ter passado pelo ritual de Lavagem de Contas e o Bori. Poderá ser iniciado ou não, vai depender do Orixá pedir a sua iniciação.
- Axogun: Responsável pelo sacrifício dos animais. (não entram em transe).
- Alagbê: Responsável pelos atabaques e pelos toques. (não entram em transe).
- Ogâ ou Ogan: Tocadores de atabaques (não entram em transe).
- Ajoiê ou Ekedi: Camareira do Orixá (não entram em transe).
Nota: Quando se diz que “não entram em transe”, não quer dizer que essas pessoas não tenham essa capacidade. Apenas que, para o desempenho das suas funções, não o podem fazer.
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