
Nascida às margens do Rio Sanhauá, há 428 anos, ainda com o nome de Nossa Senhora das Neves, a cidade de João Pessoa percorreu o caminho inverso de muitas cidades litorâneas do Brasil, que se constituíram e se desenvolveram da costa para o interior. Somente a partir dos anos 1940, com a segunda intervenção urbanística na Lagoa do Parque Solon de Lucena, a capital paraibana começou a crescer em direção ao mar.
Para o arquiteto e diretor técnico da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Umbelino Peregrino, a construção da cidade de João Pessoa a quase 10 km de distância da costa pode ser considerada “uma das estratégias de defesas mais perfeitas”, adotada pela Coroa portuguesa, após a conquista do território.
A questão da defesa, eu acho que foi o motivo primeiro. Não foi por menos que, só depois da terceira tentativa que se conseguiu a invasão (pelos holandeses, no século XVII). Era um dos melhores sistemas de defesa da América Latina”, afirmou Peregrino, ressaltando que a maioria das cidades litorâneas teve seu núcleo de crescimento no litoral.
De acordo com o diretor técnico do Iphan na Paraíba, a partir do final do século XVII e início do século XVIII, com a expulsão dos holandeses, a Coroa portuguesa iniciou um processo de retomada do território. Toda a movimentação passou a se concentrar nas regiões conhecidas como ‘cidade alta’ (centro religioso, administrativo e financeiro, da elite) e ‘cidade baixa’ (núcleo comercial e mais popular).

Parque Solon de Lucena (Foto: Juliana Brito/G1)
O foco foi a urbanização da área alagadiça da então ‘Lagoa dos Irerês’, que virou o Parque Solon de Lucena, segundo informou o jornalista e pesquisador Gilvan de Brito. “Foi quando iniciou a expansão da cidade na direção leste (região litorânea), que se intensificou nos anos 1950 e 1960”, declarou.
Avenida Epitácio Pessoa
O ápice dessa expansão da capital em direção ao mar se deu a partir do calçamento da Avenida Epitácio Pessoa, em 1952, quando o acesso à praia de Tambaú foi facilitado. A via foi aberta em 1929, pelo presidente João Pessoa, sob a denominação de ‘Estrada de Tambau’.
Porém, a locomoção entre o Centro e a praia – que já abrigava uma vila de pescadores, a capela de Santo Antônio e um hospício – era feita pela Ferrovia Tambau, que ia da Cruz do Peixe (onde funciona a ‘Usina Cultural Energisa’) somente até o sítio Imbiribeira – hoje, o bairro Tambauzinho.

crescer rumo à praia. (Foto: Mauricio Melo/G1-PB)
Ainda de acordo como o estudo, em seguida, ônibus passaram a fazer o transporte de passageiros, do Centro à praia de Tambaú, que já era frequentada por banhistas e veranistas. O processo de expansão da Avenida Epitácio Pessoa ocorreu a partir do surgimento dos bairros Santa Júlia, Torre, Expedicionários, Tambauzinho e Miramar, que se desenvolveram ao longo da via.
A pavimentação e posterior expansão da Avenida Epitácio Pessoa acompanharam uma onda de urbanização iniciada no final do século XIX, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, que tomou conta do Brasil naquele período, visando à modernização e ‘higienização’ das cidades, de acordo as informações fornecidas pelo IGHP.
Segundo o jornalista e pesquisador Gilvan de Brito, autor do livro ‘Opus Diaboli: a Lagoa e outras tragédias’, a abertura de vias importantes para a ligação do Centro à região litorânea e a segunda intervenção urbanística realizada na Lagoa do Parque Solon de Lucena, em 1940, contribuíram significativamente para o deslocamento da cidade de João Pessoa em direção ao mar.

fizeram a ocupação da praia de Tambaú
(Foto: Acervo Arion Farias)
O responsável pelo loteamento de grande parte da região de Tambaú foi o comerciante Antônio de Brito Lyra, conforme a publicação do pesquisador Deusdedit Leitão. Em 1971, foi inaugurado o Hotel Tambaú, primeiro hotel de luxo da capital, que preencheu uma lacuna existente na cidade.
Até então, as autoridades, artistas e atletas que visitavam João Pessoa ficavam acomodados na residência dos empresários Creusa e Adrião Pires, segundo conta o advogado Marcos Pires, filho mais velho do casal. A ‘mansão dos Pires’ foi construída na Avenida Epitácio Pessoa, em 1965 – em um período em que a elite local passou a deslocar do Centro para morar na principal via da cidade, localizada próximo à praia.

Hotel Tambaú, construído em 1971 marcou a total
ocupação do bairro (Foto: Felipe Gesteira/Secom-JP)
Atualmente, a praia de Tambaú é a mais frequentada por turistas e moradores de João Pessoa, sendo apontada como uma das mais valorizadas pelo setor imobiliário. O metro quadrado no bairro de Tambaú custa R$ 6 mil, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil de João Pessoa (Sinduscon-JP), com base na mais recente Pesquisa de Mercado do Setor de Lançamentos Imobiliários, divulgada em maio passado pelo consultor imobiliário Fábio Henriques.ocupação do bairro (Foto: Felipe Gesteira/Secom-JP)
Na região, estão concentrados a ‘Feirinha’, o Centro Turístico e o Mercado de Artesanato Paraibano, além de bares, restaurantes, lanchonetes e opções de lazer, tais como: ciclovia e espaços para a prática de esportes como vôlei de praia, futebol, skate e corrida. A orla de Tambaú também é o ponto de partida para passeios de barco até o banco de corais conhecido como ‘Picãozinho’, que fica a 15 minutos da costa.
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