4 de agosto de 2013

JAMPA DIGITAL: Depósito em conta de ex-assessor pode agravar situação de Aguinaldo

BRASÍLIA - Um depósito de R$ 150 mil na conta de um ex-assessor de Aguinaldo Ribeiro pode complicar a situação do ministro das Cidades, que esta semana começa a ser investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de envolvimento em irregularidades num projeto de implantação de banda larga gratuita em João Pessoa, batizado de Jampa Digital.

O GLOBO obteve cópia de duas transferências bancárias feitas em 31 de julho e 4 de agosto de 2009 na Caixa Econômica Federal (CEF), da conta de Pedro Vianna Torres, gerente da Servimaxx Comércio e Serviços Informática, para Erasmo Alex Souza Viana Barreto, filho de um antigo motorista do ministro, na época contratado do gabinete de deputado estadual. Ribeiro negou ter conhecimento da transação.A Servimaxx atua em parceria com a Ideia Digital, empresa acusada pelo Ministério Público Federal de superfaturar em R$ 1,6 milhão o projeto de banda larga gestado quando Ribeiro era secretário de Ciência e Tecnologia em João Pessoa. Na última quinta-feira, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região enviou ao STF o inquérito da Polícia Federal sobre as fraudes na Paraíba. A investigação começou porque o projeto de banda larga não tinha saído do papel. Agora, o caso foi remetido devido à suspeita de participação de Ribeiro — o foro de ministros é o Supremo.Projeto nunca funcionouLançado em fevereiro de 2010, o Jampa Digital prometia levar internet de graça para toda a cidade de João Pessoa. Originado de uma emenda parlamentar apresentada por Rômulo Gouveia, então deputado federal e hoje vice-governador da Paraíba, o projeto teve parte de seus recursos contingenciados, o que fez a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia optar por lançá-lo apenas na orla.Mas o sinal nunca funcionou de verdade, o que levantou suspeitas sobre o que havia sido feito dos R$ 6,25 milhões repassados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.A investigação da PF terminou há duas semanas, e resultou no indiciamento de 23 pessoas. A Servimaxx pertence ao empresário Adriano Barcellos, que também é dono da LWS Serviços e Comércio em Informática. Barcellos é um velho conhecido do Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF), que o acusou de fraudar licitações de informática nos Correios.De acordo com o MPF, a Servimaxx e a LWS operam no mercado com o nome de Lan Professional. A Lan e a Ideia Digital, empresa que executou o Jampa na Paraíba, não escondem o vínculo que mantêm. Atuam juntas no mercado, às vezes até dividindo projetos, como a rede que fizeram para a Universidade do Estado da Bahia. Na seção “Cases” do site da Ideia, ao descrever o projeto, a empresa chama a ligação entre as duas de “fortíssima relação de parceria”.A dobradinha entre a Lan Professional/Servimaxx e a Ideia Digital fica ainda mais clara em outros dois textos do site da Ideia Digital, que falam de um evento para o mercado em que as duas se uniram para realizar, o Security Information and Event Managment, em um espaço para degustação de vinhos, em Salvador.Em nota, o ministro Aguinaldo disse ser favorável à investigação do caso no STF, “para que seja esclarecido”. O ministro disse repudiar “as movimentações políticas que vêm acontecendo nos últimos dias, com tentativas de envolvê-lo para desviar o foco das investigações”. O GLOBO foi ao endereço de registro da Servimaxx, em Brasília, mas a empresa não funciona mais no local.O empresário Adriano Barcellos não foi encontrado. Ao saber do assunto da reportagem, na sexta-feira, o assessor Erasmo se limitou a dizer que desconhecia o depósito e desligou o telefone. Sem conseguir localizar Pedro Torres, O GLOBO foi até seu endereço, em um bairro nobre de Brasília, mas o proprietário afirmou que o gerente da Servimaxx saiu de lá há um ano.

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